TEMA – Tempos trabalhosos: como enfrentar os desafios deste século

COMENTARISTA : Elinaldo Renovato de Lima

LIÇÃO Nº 8 – A INTEGRIDADE NO MUNDO RELATIVISTA

                                   Na soberba da vida, que existe no mundo, há uma recusa em se aceitarem os valores absolutos da Palavra de Deus.

INTRODUÇÃO

– Nos tempos trabalhosos em que vivemos, o homem é amante de si mesmo, soberbo e orgulhoso (II Tm.3:1-3), quer “ser igual a Deus”, demonstrando, assim, toda a sua rebeldia contra a soberania do Senhor. Uma das principais conseqüências deste comportamento é o da recusa em aceitar valores morais absolutos, valores estes indicados pelo próprio Deus quando da criação do homem.

– Uma sociedade, como a do mundo de hoje, que se recusa a aceitar a Deus, é uma sociedade onde não haverá como se estabelecer uma noção do que é certo e do que é errado e, por isso, é uma sociedade que caminha, cada vez mais, para o relativismo moral, onde a única máxima existente é a de que “tudo é relativo”.

I – NOÇÃO DE ÉTICA E DE MORAL

–          “Ética” é palavra de origem grega, que vem de “ethos”, que quer dizer costume, hábito, disposição. Em latim, a palavra usada para dar a mesma idéia é “mos, moris”. Advém daí que, etimologicamente, temos que “ética” e  “moral” se confundem, pois ambas dizem respeito ao conjunto de padrões e de atitudes que as pessoas devem ter no seu dia-a-dia, no seu cotidiano.

–          A ética, portanto, preocupa-se com a conduta ideal do indivíduo, ou seja, qual deve ser o comportamento do indivíduo ao exercer uma determinada atividade, ao desempenhar uma determinada ação, ou seja, como o indivíduo deve agir enquanto vive.

OBS: “…A ética é a ciência da conduta ideal. Aborda a conduta ideal do indivíduo, isto é, nossa responsabilidade primária. Os Evangelhos nos ensinam que a transformação moral nos conduz às perfeições de Deus Pai (Mt.5.48). E daí, parte-se para a transformação de acordo com a imagem do Filho de Deus (Rm. 8.29; Ii Co. 3.18). Precisamos cuidar de nosso próprio desenvolvimento espiritual como indivíduos. Essa transformação reflete em nossa conduta pessoal, pois a conversão cristã gera essa transformação na vida do ser humano direcionando-o à ética pessoal ( II Co. 5.17) …” ( Pr. José Elias CROCE. Lição 1 – O cristão e a ética. Betel Dominical, jovens e adultos, 3º trim. 2001, p.8)

–          A Bíblia nos mostra que Deus fez o homem dotado de moralidade, pois feito à imagem e semelhança de Deus (Gn.1:26) e Deus é um ser eminentemente moral, de forma que o homem não poderia ser diferente. Como demonstração desta moralidade ínsita à natureza humana, Deus estabeleceu, já no jardim do Éden, uma regra a ser observada, referente à árvore da ciência do bem e do mal (Gn.2:16,17). Neste estabelecimento da regra, Deus denuncia não só a moralidade do homem como a sua liberdade. Assim, a vida do homem está envolvida, integralmente, com a ética, com a conduta que deve seguir.

–          Não é, portanto, desarrazoado que, desde as épocas mais antigas, tenha o homem se debruçado sobre a questão do comportamento que deve ser seguido no viver cotidiano, a ponto de uma das partes tradicionais da filosofia ser, exatamente, a ética, aqui concebida como a reflexão de como deve ser o agir humano, de qual a conduta ideal do indivíduo.

–          Desde a criação, portanto, ao homem tem sido proposta uma conduta ideal, qual seja, a obediência a Deus e a Seus mandamentos, que é a ética divina, a verdadeira ética que conduz o homem à comunhão com seu Criador e à vida eterna, mas o homem, desde a queda, tem enveredado por outros caminhos, buscando, dentro de sua capacidade e de seus pensamentos, outras condutas de vida, outras formas de comportamento, que dão ensejo às diversas éticas que têm sido criadas ao longo da história da humanidade.

–          Quando se fala, portanto, em conduta ideal do indivíduo, em forma de agir, em comportamentos adequados, sempre teremos, de um lado, o comportamento exigido por Deus, proposto pelo Criador, determinado pelo Soberano Senhor dos céus e da terra, como, também, de outro lado, as propostas humanas de conduta e de comportamento, fruto da rebeldia do ser humano e de seu estado pecaminoso.

OBS: “…Todos nós tomamos diariamente dezenas de decisões, resolvendo aquilo que tem a ver com nossa vida, a vida da empresa e de nossos semelhantes. Ninguém faz isso no vácuo. Antigamente pensava-se que era possível pronunciar-se sobre um determinado assunto de forma inteiramente objetiva, isto é, isenta de quaisquer pré-concepções. Hoje, sabe-se que nem mesmo na área das chamadas ciências exatas é possível fazer pesquisa sem sermos influenciados pelo que cremos. Ao elegermos uma determinada solução em detrimento de outra, o fazemos baseados num padrão, num conjunto de valores do que acreditamos é certo ou errado. É isso que chamamos de ética: o conjunto de valores ou padrão pelo qual uma pessoa entende o que seja certo ou errado e toma decisões. Cada um de nós tem um sistema de valores interno que consulta (nem sempre, a julgar pela incoerência de nossas decisões…!) no processo de fazer escolhas. Nem sempre estamos conscientes dos valores que compõem esse sistema, mas eles estão lá, influenciado decisivamente nossas opções.

Os estudiosos do assunto geralmente agrupam as alternativas éticas de acordo com o seu princípio orientador fundamental. As chamadas ÉTICAS HUMANÍSTICAS tomam o ser humano como seu princípio orientador, seguindo o axioma de Protágoras, “o homem é a medida de todas as coisas”. O hedonismo, por exemplo, ensina que o certo é aquilo que é agradável. Freqüentemente somos motivados em nossas decisões pela busca secreta do prazer. O individualismo e o materialismo modernos são formas atuais de hedonismo. Já o utilitarismo tem como princípio orientador o que for útil para o maior número de pessoas. O nazismo, dizimando milhares de judeus em nomes do que é útil, demonstrou que na falta de quem decida mais exatamente o sentido de “útil”, tal princípio orientador acaba por justificar os interesses de poderosos inescrupulosos e o egoísmo dos indivíduos. O existencialismo, por sua vez, defende que o certo e o errado são relativos à perspectiva do indivíduo e que não existem valores morais ou espirituais absolutos. Seu principio orientador é que o certo é ter uma experiência, é agir — o errado é vegetar, ficar inerte. O existencialismo é o sistema ético dominante em nossa sociedade moderna, que tende a validar eticamente atitudes tomadas com base na experiência individual.

A ÉTICA NATURALÍSTICA toma como base o processo e as leis da natureza. O certo é o natural — a natureza nos dá o padrão a ser seguido. A natureza, numa primeira observação, ensina que somente os mais aptos sobrevivem e que os fracos, doentes, velhos e debilitados tendem a cair e desaparecer à medida em que a natureza evolui. Logo, tudo que contribuir para a seleção do mais forte e a sobrevivência do mais apto, é certo. Numa sociedade dominada pela teoria evolucionista não foi difícil para esse tipo de ética encontrar lugar. Cresce a aceitação pública do aborto (em caso de fetos deficientes) e da eutanásia (elimina doentes, velhos e inválidos). (Rev. Augustus Nicodemus LOPES. A ética nossa de

 cada dia.

–          Cumprimos a Palavra de Deus, praticamos as ações e atitudes que a Bíblia nos determina, porque, antes, cremos que a Bíblia é a Palavra de Deus e a única regra de fé e prática que deve ser seguida. Temos a convicção, que nasce em nós por dom de Deus (Ef.2:8), pela aceitação da ação de convencimento do Espírito Santo (Jo.16:8-11).

–          Destarte, quem não tem fé verdadeira e genuína, não pode, em absoluto, ter um comportamento ou conduta que esteja de acordo com a Palavra de Deus, ou seja, a ética cristã exige uma verdadeira conversão do indivíduo. É por isso que vemos com preocupação a constatação de que a ética tem sido relegada a um plano absolutamente secundário na pregação do evangelho nos nossos dias, tanto que o fenômeno tem sido observado até por sociólogos da religião, como Antonio Flávio Pierucci, que o denominou de “des-moralização religiosa”, algo, aliás, que já tinha sido previsto nas Escrituras (II Pe.2:1-3)

OBS: “…Os cristãos entendem que éticas baseadas exclusivamente no homem e na natureza são inadequadas, já que ambos, como os temos hoje, estão profundamente afetados pelos efeitos da entrada do pecado no mundo. A ÉTICA CRISTÃ, por sua vez, parte de diversos pressupostos associados com o Cristianismo histórico. Tem como fundamento principal a existência de um único Deus, criador dos céus e da terra. Vê o homem, não como fruto de um processo evolutivo (o que o eximiria de responsabilidades morais) mas como criação de Deus, ao qual é responsável moralmente. Entende que o homem pecou, afastando-se de Deus; como tal, não é moralmente neutro, mas naturalmente inclinado a tomar decisões movido acima de tudo pela cobiça e pelo egoísmo (por natureza, segue uma ética humanística ou naturalística). Um outro postulado é o de que Deus enviou seu Filho Jesus Cristo ao mundo para salvar o homem. Mediante fé em Jesus Cristo, o homem decaído é restaurado, renovado e capacitado a viver uma vida de amor a Deus e ao próximo. A vontade de Deus para a humanidade encontra-se na Bíblia. Ela revela os padrões morais de Deus, como encontramos nos 10 mandamentos e no sermão do Monte. Mais que isso, ela nos revela o que Deus fez para que o homem pudesse vir a obedecê-lo. A ÉTICA CRISTÃ, em resumo, é o conjunto de valores morais total e unicamente baseado nas Escrituras Sagradas, pelo qual o homem deve regular sua conduta nesse mundo, diante de Deus, do próximo e de si mesmo. Não é um conjunto de regras pelas quais o homem poderá chegar a Deus – mas é a norma de conduta pela qual poderá agradar a Deus que já o redimiu. Por ser baseada na revelação divina, acredita em valores morais absolutos, que são a vontade de Deus para todos os homens, de todas as culturas e em todas as épocas.”
(Rev. Augustus Nicodemus LOPES. A ética nossa de cada dia. http://www.thirdmill.org/files/portuguese/

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–          A existência de um comportamento distinto e de acordo com a Palavra de Deus foi algo que faltou na geração do êxodo entre os filhos de Israel, tanto que foi o responsável, ao lado da incredulidade (Hb.3:19), pelo fracasso e morte daquele povo no deserto. Deus não Se agradou daqueles que tomaram um comportamento semelhante aos dos outros povos, que assumiram as mesmas ações e condutas decorrentes de pensamentos humanos e rebeldes contra Deus. O resultado de tal atitude inconseqüente foi a sua própria destruição e prostração no deserto (I Co.10:5). Quem quer agradar ao mundo, às éticas fundadas no pecado e na rebeldia, torna-se inimigo de Deus (Tg.4:4).

II – O CONTRASTE ENTRE A ÉTICA DO CRISTÃO E A ÉTICA DO MUNDO

–          Sob um discurso de tolerância e de liberdade, o mundo, hodiernamente, defende a idéia do “relativismo ético”, ou seja, nega que haja padrões de comportamento válidos para todos os homens, independentemente da época, da cultura ou da vontade de cada ser humano. Dentro deste pensamento, não é considerado exigível dos homens qualquer conduta estabelecida “a priori” por quem quer que seja. Deste modo, entende-se que não possa ser imposto qualquer comportamento a qualquer homem, sendo “fanáticos” e “intolerantes” aqueles que assim não entendem.

–          Entretanto, este tipo de pensamento é antibíblico, porquanto é mera conseqüência do pecado do homem, da sua recusa em obedecer a Deus e à ética estabelecida pelo Criador dos céus e da terra. Não negamos a liberdade de cada indivíduo de viver conforme a sua vontade, pois o livre-arbítrio foi dado ao homem pelo próprio Deus e, desta forma, é igualmente antibíblico agir de forma a negá-lo ou procurar massacrá-lo, mas não resta dúvida de que existe uma ordem universal instituída por Deus e que esta ordem deve ser observada pelo homem.

–          Portanto, existe, sim, uma conduta que deve ser perseguida pelo ser humano, que é a conduta determinada por Deus, por Ele revelada em Sua Palavra, que deve ser a nossa única regra de fé e prática. Ao contrário do que se diz no mundo, existe, sim, um padrão universal de conduta, que independe de cultura, de época ou da vontade de cada ser humano: o padrão bíblico, o padrão estabelecido por Deus e revelado ao homem por Sua Palavra.

OBS: “…O Mestre Jesus, ensinador por excelência, inicia agora seu maravilhoso discurso, popularmente conhecido como Sermão da Montanha. Nunca um discurso foi tão universal. O Sermão da Montanha não proferido para judeus, mas era eficaz para tantos quanto ouvissem (Mt 7.24). Aqui, não há questões culturais. Aqui não há exteriorização. Aqui, são as profundezas do coração humano que são sondados. Jesus identificou em todo esse discurso que o primeiro alvo do evangelho genuíno é transformar o interior do homem. O resto, é de acordo com o querer do Espírito pela atuação da Palavra. O sermaõ do monte não é mandamento, é ideal, alvo a ser perseguido. Sabemos perfeitamente que ser humano algum pode alcançar tão altas exigências de amor e santidade pelo braço da carne, mas somente pelo poder do Espírito e pela graça de Deus. Se o sermão da montanha fosse mandamento, estaríamos em situação dificil, com certeza Jesus teria mentido quanto ao seu jugo suave e fardo leve (Mt 11.28). Mas todos os salvos almejam e procuram viver de acordo com esta ética do reino. Aleluias!!! Sermos súditos do Reino implica empenharmo-nos resolutamente para viver o padrão ético de Deus para seu povo…. Existe uma ética, uma legislação vigente neste reino: A legislação vigente do reino é de uma simplicidade e de uma profundidade espiritual muito grande. “O Teu trono, oh Deus, é para todo o sempre; cetro de equidade é o cetro do teu reino. Amas a justiça e odeias a iniqüidade;” (Sl 45.6,7a)…. Com o propósito de responder a todas as indagações e estabelecer o padrão de conduta dos cidadãos do reino, Jesus proferiu um discurso-chave popularmente conhecido como “Sermão do Monte”. Este sermão nos mostra que a real vida em Cristo requer a substituição de nosso padrão de justiça. Ser um cidadão do reino independe do que temos ou fazemos, mas do que somos. É um estado interior. O Sermão do Monte é a base a todos os que desejam viver realmente o Cristianismo bíblico…” http://www.scriptura.hpg.ig.com.br/novo/mateus/mt005.htm).

–          A inobservância do padrão bíblico gera a ira de Deus sobre os desobedientes (Rm.1:18) e o resultado desta recusa à ética divina é o abandono de Deus, de forma que haja a concupiscência dos corações humanos à imundícia e toda a sorte de desordem, de desequilíbrio e de iniqüidade no seio da humanidade (Rm.1:26-32).

OBS: “…01- A maldade humana tem gerado nas pessoas uma total falta de caráter quando diz respeito às coisas de Deus. Quase sempre os seres humanos estão dispostos a se tornarem bons conhecedores das verdades bíblicas, sem contudo, ter a intenção de se tornarem praticantes. 02 – Jesus quer não somente a nossa fé, mas também a nossa fidelidade. Fé é crença, enquanto fidelidade é prática da vontade de Deus. Fidelidade e obediência são a mesma coisa nesse sentido. Essa deve ser a marca ou o ponto distinto entre os discípulos de Jesus e os escribas e fariseus. Enquanto escribas e fariseus são excelentes professores de leis que só passam por seus livros e intelectos, os discípulos devem se tornar homens com o coração cheio de verdades para a vida diária…” (Rev. Ary Sérgio  Abreu MOTA. Uma janela para o sermão do monte. http://www.ejesus.com.br/estudos/2000-01/uma_janela_para_o_sermao_do_monte.htm).

–          Por causa do “relativismo ético”, é que se tem um vazio nas relações humanas, uma perplexidade quanto aos rumos e às orientações que se devam tomar no tratamento dos principais problemas morais, tentando o homem em vão buscar a solução para este vazio em técnicas de auto-ajuda ou em valores como os direitos humanos. A solução para o homem está em acolher a ética divina, constante da Palavra de Deus e exemplificada de forma ímpar na vida e no ministério de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

–          Ora, Deus, após ter revelado Sua ética na Sua Palavra e no exemplo de Jesus Cristo, constituiu um povo Seu para viver conforme a Sua vontade (Gl.6:15,16), a saber, a Sua Igreja, que tem um dever indeclinável sobre a face da terra, qual seja, o de pregar o evangelho, ou seja, anunciar aos homens que existe uma salvação e que é possível a transformação da vã maneira de viver que tem sido vivida pela humanidade (I Pe.1:18).

–          Como povo de Deus, como anunciadora das boas-novas da salvação, a Igreja tem de pregar, a todo momento, que o homem deve assumir o comportamento exigido por Deus, deve se reconciliar com seu Criador e isto impõe a assunção de uma vida de santidade e de agrado a Deus. É mister que, com desenvoltura, a Igreja proclame que o mundo deve ” se arrepender e se salvar desta geração perversa” (At.2:37-40).

–          Mas, para fazer esta proclamação, a Igreja deve se comportar como Jesus, ou seja, deve pregar a ética divina com autoridade (Mt.7:29), ou seja, deve ter, ela própria, uma vida tal que faça com que todos lhe indiquem como sendo “cristã”, ou seja, “parecida com Cristo”(At.11:26), pois, caso contrário, acabará repetindo o fracasso representado pelos escribas e fariseus (Mt.23:2-4), prestando, assim, enorme desserviço à obra de Deus, com graves conseqüências para os que assim agirem (Mt.7:20-23; 25:31-46).

OBS: “…O propósito da doutrina de Cristo é a mudança da vida dos cristãos, pelo que o termo não deve subentender meros conceitos intelectuais e religiosos. E, para tanto, temos que entender aqueles ensinos usados pelo Espírito Santo a fim de transformar almas humanas, tornando-as semelhantes ao seu Mestre. As doutrinas dos credos religiosos tendem a estagnar a viva energia dos ensinamentos de Cristo. Quando Ele disse: ‘ aprendei de mim’ não estava pensando em alguma sistematização de idéias a Seu respeito e, sim, na capacidade transformadora de Sua doutrina e Espírito, capaz de transformar Seus discípulos. Portanto, a doutrina de Cristo não consiste somente naquilo em que cremos. Antes, trata-se de uma maneira de viver. De outra sorte, a fé cristã seria apenas outra filosofia e a comunidade cristã seria apenas mais uma religião. Em outras palavras: o propósito da doutrina de Jesus não é somente para que possamos crer em Suas palavras e na Sua pessoa, mas também devemos viver o que Ele ensinou…Não é bastante crer, é necessário praticar, edificar a casa sobre a Rocha e, se necessário, cavar fundo, lançando os alicerces com segurança…” (Osmar José da SILVA. Reflexões filosóficas de eternidade a eternidade, v.5, p.77-8).

–          A Igreja é, portanto, um povo que, liberto do mal (Jo.17:15), bem como do pecado (Jo.8:32-36), tem o devido discernimento do que é certo ou errado, do que agrada e do que não agrada a Deus e, portanto, age com plena liberdade, pois não está mais escravizada pelo pecado. A liberdade do cristão, entretanto, sempre é responsável e segue a padrões estabelecidos por Deus, a Quem servimos e a Quem queremos agradar. Tudo é lícito ao cristão, vez que não tem ele mais malícia nem maldade, mas nem tudo lhe convém(I Co.10:23), vez que, agora, a vida que vive, vive-a em e para Cristo (Gl.2:20).

–          O cristão somente deve praticar o que seja bom para edificação, o que seja verdadeiro, honesto, justo, puro, amável, de boa fama e em que haja alguma virtude e algum louvor (Fp.4:8), coisas que correspondem ao fruto do Espírito e contra o que não há lei humana que possa querer evitar (Gl.5:22,23).

–          O objetivo do cristão deve ser, sempre, a glória de Deus, daí porque Jesus ter nos alertado de que as nossas obras farão os homens glorificarem a Deus (Mt.5:16). Aliás, foi este o propósito de todo o ministério terreno de Cristo (Jo.17:4). Tudo o que fizermos deve redundar na glorificação do Senhor ( I Co.10:31) e isto no relacionamento com todos os homens, indistintamente, pertençam eles a qualquer um dos três povos da terra (judeus, gentios e igreja) (I Co.10:33).

–          Quando se fala em escândalo ante judeus, gentios e igreja de Deus (I Co.10:33), devemos salientar que a Palavra de Deus assim considera aqueles que, dizendo-se cristãos, não estiverem sendo fiéis e forem apanhados em pecado, trazendo, assim, escândalo, ou seja, perplexidade resultante da discordância entre o que é dito e pregado e o que é vivido pelo suposto servo de Deus. Em hipótese alguma, poderemos considerar escândalo toda e qualquer calúnia ou injúria que for levantada contra um sincero servo de Deus, como fruto da oposição satânica a seu fiel proceder diante de Deus. Pelo contrário, antes de maldição, esta circunstância é, segundo a Palavra de Deus, uma bem-aventurança, uma bênção, um motivo para o regozijo do crente (Mt.5:11,12; I Pe.2:19-25)

–          Será que o nosso comportamento tem sido desta ordem no meio dos homens? Será que nossa conduta revela que somos sal da terra e luz do mundo, ou já estamos irremediavelmente comprometidos com os princípios, valores, crenças e comportamento mundanos? Será que nossa conduta tem servido para a glória de Deus, ou temos sido motivo de escândalo na igreja, entre os judeus ou entre os gentios? Este trimestre nos levará de encontro a alguns dos principais dilemas morais da humanidade nos dias de hoje e qual a resposta bíblica, ou seja, a resposta divina a estas questões. Será que poderemos dizer que nossa conduta é a esperada por Deus? Que Deus nos abençoe e nos faça melhorar os nossos caminhos, para que, a cada dia, possamos nos santificar ainda mais (Ap.22:11), pois Jesus está às portas e, no arrebatamento, somente levará para Si aqueles que forem achados fiéis(Mt.24:45-47).

III – A POSTURA ÉTICA É CONSEQÜÊNCIA DA POSTURA DIANTE DE DEUS

– O homem, nestes dias trabalhosos, enganado pelo pecado, arroga-se o ilusório direito de “ser igual a Deus”. Uma das conseqüências desta divinização humana é, precisamente, o surgimento de “éticas humanas”, que, por serem originárias da mente humana, são incapazes de abarcar toda a realidade humana, são insuficientes para dirigir a vida humana e, por conseguinte, só servem para dar a impressão de que não existem valores absolutos, que não existe uma ordem a indicar qual deva ser o comportamento humano.

– O estabelecimento de um padrão de moralidade está diretamente relacionado com a postura que o ser humano tenha diante de Deus. Deus, por definição, é o Ser Supremo, é o Ser Soberano, Aquele que governa todo o universo. Portanto, dependendo da postura que o ser humano tenha em relação a Deus, terá um determinado padrão de moralidade a seguir.

– Se o homem aceita a Deus, reconhece Sua existência, Sua soberania, Sua distinção em relação aos seres criados, logicamente reconhece que Deus é quem determina o que é certo e o que é o errado, pois só Ele, por ser o autor da criação, tem poder e autoridade para dizê-lo. Diante disto, quem reconhece a existência de Deus bem como Sua transcendência e imanência (como vimos na lição anterior, cuja leitura recomendamos), não tem outra alternativa senão reconhecer que é Deus quem diz o que é o certo e o que é errado.

– Esta é a verdadeira realidade das coisas, a realidade trazida pelo Evangelho e que procura ser obnubilada das mentes humanas pelo adversário das nossas almas (II Co.4:4). Quem aceita a soberania divina, sabe que é Deus quem diz o que é certo e o que é errado, passando, então, a seguir a Sua orientação, vez que sabe que Ele é o Senhor e que nós somos tão somente Seus servos.

– Por isso, Deus, desde os primórdios da humanidade, procurou mostrar ao homem qual o comportamento que ele deveria seguir, como se lê em Gn.2:16,17. Ali está bem claro e evidente a todos quantos quiserem entender que quem ordena e diz o que é o certo e o que é o errado é o Senhor Deus. Ele “ordenou” ao homem qual a conduta que deveria ser observada, embora tenha feito o homem com a liberdade, o livre-arbítrio entre seguir, ou não, o que havia sido prescrito, o que havia sido determinado. Já tinha, pois, o homem, desde antes do pecado, o conhecimento do que era bom e do que era mau. É Deus quem determina o que é bom e o que é mau.

– É este o sentido da expressão do salmista quando diz que os mandamentos do Senhor são “amplíssimos” (Sl.119:96), ou seja, por ter sido o próprio Criador do homem, Deus, que conhece cada ser humano intimamente, desde a sua estrutura (Sl.103:14), encarregou-Se de mostrar ao homem como deveria ser o seu comportamento em todos os aspectos da vida, em todas as decisões que o ser humano deveria tomar ao longo da sua existência sobre a face da Terra. A Palavra de Deus é, portanto, este guia, este manual ético que deve sempre se encontrar à disposição do ser humano nas seguidas decisões que ele é obrigado a fazer a cada instante de sua vida.

– Tudo o que diz respeito ao comportamento humano sobre a face da Terra tem, assim, uma orientação nas Escrituras Sagradas, às vezes não de forma explícita, até porque surgem questões que estão relacionadas com o desenvolvimento tecnológico-científico, que até então nem sequer eram imaginadas pelo homem, mas que estão perfeitamente previstas por Deus, Que é onisciente.

– Neste sentido, aliás, é que se deve entender o texto de Dt.29:29, tão citado como uma válvula de escape aos “mistérios ocultos” das especulações teológicas, mas que tem um lado a que nem sempre se dá o devido valor, qual seja, o de que as coisas referentes à vida terrena, ao dia-a-dia do homem sobre a face da Terra estão todas reveladas na Bíblia Sagrada.

– A rebeldia humana contra Deus faz com que os homens se arroguem o direito de dizer o que é bom e o que é mau. Não é o homem quem diz o que é certo ou o que é errado, mas, sim, o Senhor Deus. Isto é importante, porque, nos tempos em que vivemos, não faltam aqueles que entendem que é o homem quem deva estabelecer o que é certo ou o que é errado, como também, vigora, na atualidade, o entendimento de que “certo e errado” são noções sociais, estabelecidas pelos próprios homens, conceitos que variam de tempo para tempo, de lugar para lugar, de cultura para cultura.

OBS: “…Outro dos perigosos paradoxos que enfrentamos é a religiosidade que todos dizem possuir e, ao mesmo tempo, a falta de reverência, já não diremos amor, para com Deus. A todos os outros males, a raça humana aumenta este — o de rejeitar a Deus e adorar-se a si mesma. A adoração do homem é a culpada de que tenham medrado e venham a medrar ainda as ideologias totalitárias que tanto mal têm feito e nos farão ainda. Por esse antropoteísmo nasceram os ditadores e é por ele que o comunismo se imporá. A deificação do ‘leader’ é mais outro sinal do tempo solene em que vivemos!…” (MINHAM, Júlio. As maravilhas da ciência, p.440).

– Ora, na rebeldia do homem, surge a especulação a respeito da própria existência de Deus e, ante a negativa desta existência, tem-se como conseqüência direta a própria desconsideração de todas as normas dadas por Deus aos homens na sua conduta sobre a face da Terra.

– A partir do momento que se nega a existência de Deus (o ateísmo), não há quem determine o que é certo e o que é errado, não existem valores absolutos, não há no que se apegar com relação ao que seja certo e ao que seja errado. Esta postura traz grandes dificuldades para a própria convivência entre as pessoas, como se verificou, aliás, nos regimes comunistas do século XX, que adotaram, dentro da filosofia marxista-leninista, o ateísmo como característica da organização de suas sociedades.

– A negação de Deus gera a negação do padrão de moralidade estabelecido por Deus e, em virtude disso, não há mais qualquer norte, qualquer referência entre o que seja certo e o que seja errado, criando-se um vazio que prejudica grandemente a própria convivência entre os homens, já que não é possível o estabelecimento de uma sociedade em que não existam tais parâmetros.

– A construção de uma ética dentro de sociedades que acolheram e abraçaram o ateísmo como padrão de vida sempre foi um desafio enorme para o homem e resultou no estabelecimento das maiores atrocidades, a comprovar o que dizem as Escrituras a respeito. Com efeito, ao indicar que o homem ateu é um ignorante, o salmista, por duas vezes, associa o ateísmo à corrupção de costumes e ao predomínio do mal (Sl.14:1; 53:1).

– A história está a comprovar isto. Na Revolução Francesa, na sua fase mais radical, quando se negou a própria existência de Deus e se adorou a “Razão”, tivemos o tenebroso período do “Terror” e do “Grande Terror”, onde as atrocidades e a violência alcançaram seu ponto máximo, com a guilhotina funcionando noite e dia, fazendo rolar milhares de cabeças inocentes.

OBS: “…Herbert, Chamette, Mamoro e o prussiano Anacharsis Clotz impuseram à Assembléia [a Assembléia Francesa, observação nossa] a abolição de toda a religião e substituí-la pelo culto da razão. Este decreto tornou-se efetivo no dia 10 de novembro de 1793. A jovem e linda amante de Mamoro, conhecida por todos como uma libertina, empregada num café cantante, ricamente vestida foi apresentada por Chaumette à Convenção e tomando-a pela mão disse: ‘Mortais, cessai de tremer perante os trovões dum deus que vosso medo criou: Não reconheçais de hoje em diante outra divindade que a da razão. Eu vos apresento a sua imagem mais nobre e pura (u’a meretriz), e se deveis ter ídolos oferecei sacrifícios somente aos que sejam como este!…’ Herbert, o presidente, abraçou o novo ‘deus que não conheceram seus pais’ (Dn.11:38) e numa louca procissão foi a deusa levada para Notre Dame, onde a entronizaram e lhe prestaram culto com toda a solenidade. Após entronizar a deusa da razão, começou uma guerra de morte contra a Bíblia. Milhares delas foram queimadas e quando a população entrou no salão nobre do Paço Municipal, levando espetados num pau os restos de um Breviário e um Novo Testamento que tinham retirado das chamas, Herbert disse que: ‘tinham expiado no fogo as loucuras que por sua causa cometera a raça humana’ (‘Journal de Paris’, 14 de nov. 1793, n. 318, p. 1.279. Lacretelle. ‘ Hist. de France pendent le dix. siegle’, p. 309, Paris, 1825)…” (MINHAM, Júlio. As maravilhas da ciência, p.303).

– Nos países comunistas, então, não foi diferente. Durante o governo de Stálin, na extinta União Soviética, mais de 35 milhões de pessoas foram mortas, por discordarem do regime soviético. Na China, na chamada “Revolução Cultural”, levada a cabo por Mao Tsé-Tung, também foram cometidas imensas atrocidades, sem se falar no verdadeiro assassínio coletivo praticado, no Camboja, pelo seguidor de Mao, o tirano Pol Pot, que matou parte considerável de sua população.

– Os ateus, portanto, constroem as noções de certo e de errado conforme as suas próprias mentes, sem ter de prestar contas a ninguém (isto é, assim pensam, já que entendem que Deus não existe). Entre os ateus, merecem destaque os que são materialistas, ou seja, que negam a existência de qualquer coisa além da matéria, como é o caso dos marxistas-leninistas que se orgulham em chamar sua filosofia de “materialismo histórico”.

– O resultado desta atitude de rebeldia, entretanto, nada mais é que a mais completa discórdia e aviltamento da dignidade da pessoa humana. Não é por outro motivo que os regimes comunistas redundaram no mais completo fracasso e na maior desilusão que se tem conhecimento na história da humanidade.

OBS: “… Isto se torna mais particularmente óbvio quando o pecador acha que ele somente pode afirmar sua própria liberdade negando explicitamente Deus. A dependência da criatura de seu Criador, e a dependência da consciência moral da lei divina são consideradas por ele como uma escravidão intolerável. Por conseguinte, ele vê o ateísmo como uma verdadeira espuma de emancipação e de libertação do homem, considerando que a religião ou até mesmo o reconhecimento de uma lei moral, constituem formas de alienação. O homem, então, deseja fazer decisões independentes a respeito do que é bom e do que é mau, ou decisões a respeito de valores; em um simples gesto, ele rejeita tanto a idéia de Deus quanto a idéia de pecado. É através desta audácia do pecado que ele pretende se tornar adulto e livre, e reivindica esta emancipação não apenas para si próprio, mas para a humanidade inteira. Tendo se tornado o seu próprio centro, o homem pecador tende a se afirmar e a satisfazer seu desejo para o infinito pelo uso das coisas: riqueza, poder e prazer, desprezando outras pessoas e as pilhando injustamente bem como as tratando como objetos ou instrumentos. Por via de conseqüência, ele faz a sua própria contribuição para a criação daquelas verdadeiras estruturas de exploração e de escravidão que ele alega condenar.…” (CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ. Instrução Libertatis conscientia, nn.41 e 42) (tradução nossa de texto oficial em inglês).

– Mas não é apenas o ateísmo que cria condições para que não haja valores absolutos morais, vez que não haverá quem diga o que é certo ou errado, a permitir, assim, que os poderosos imponham a sua vontade e contribuam para a indignidade do ser humano, para o seu aviltamento e para situações que aumentam ainda mais o sofrimento e a miséria dos que vivem sem Deus e sem salvação.

– Também o panteísmo, tão em voga nos nossos dias, é uma forma de se eliminar a crença em valores morais absolutos. Como vimos na lição anterior, o panteísmo é a crença na existência em um Deus, mas um Deus que Se confunde com a própria criação, ou seja, Deus e o mundo seriam a mesma coisa. Este tipo de pensamento faz com que o homem se sinta um verdadeiro deus, já que faz parte de Deus. Ora, se o homem faz parte de Deus, tem o poder de dizer o que é certo e o que é errado. Assim como no ateísmo, portanto, é o homem, e não Deus (já que o homem faz parte de Deus), quem diz o que é certo e o que não o é.

– No panteísmo, portanto, há a crença de que o homem é quem determina o que é certo e o que é errado e os valores morais absolutos determinados por Deus, através de Sua Palavra, são tratados apenas como regras impostas por alguns homens sobre outros, sem qualquer validade para as gerações seguintes, principalmente diante da “evolução” da humanidade.

– Este conceito de que o homem é o seu próprio senhor e quem estabelece o que é o certo e o que é o errado, ou seja, que determina qual é a conduta que deve ser seguida, ninguém tendo nada que ver com isto, é o sentimento que iniciou a ser adotado pela humanidade, com mais presteza, a partir do século XIX, quando se começou a verificar que a crença na razão, na ciência e na matéria tinha sido um equívoco.

– Friedrich Nietzsche, filósofo alemão (1844-1900), passou a defender abertamente que a moral apresentada pelo Cristianismo, a chamada “moral judaico-cristã”, era uma
”moral do fraco”, “moral do vencido”, que havia sido imposta por alguns sobre outros, dizendo que o homem deveria assumir a sua condição e ele próprio montar uma moral que fosse além do bem e do mal. Esta atitude de soberba diante de Deus (Nietzsche é o filósofo que disse que Deus havia morrido) somente aumentou quando passou a surgir a idéia de que o homem era divino e, portanto, tinha “direito” de determinar o que é o certo e o que é o errado.

– Criando uma espiritualidade em torno de si (tendo, para tanto, o apoio de filosofias religiosas orientais e da teosofia, a matriz do movimento Nova Era, que tem se caracterizado por esta intensificação da divinização do homem), o homem passou a se arrogar o direito de determinar qual a moral que deveria observar. Hoje estão em alta pensamentos filosóficos segundo os quais o certo e o errado são resultado de consenso estabelecido entre as pessoas numa determinada sociedade. Entre os próprios que se dizem cristãos, há disseminação desta idéia, a ponto de grupos religiosos estarem dizendo que não lhes compete discutir ou influir nas decisões dos seus fiéis, devendo aceitar as suas posições, como, por exemplo, pasmem todos, a própria “orientação sexual” (neste ponto, por exemplo, é textual a diocese de New York da Igreja Episcopal americana).

– O resultado desta circunstância está em que, nos dias em que vivemos, avança a idéia de que os valores morais absolutos da Palavra de Deus são apenas “preconceitos”, “atrasos”, “conceitos retrógrados” e outras coisas que, lamentavelmente, são divulgados pela mídia e tidos como verdadeiros por um número cada vez maior de pessoas.

– Esta postura também é abraçada pelos “deístas”, aqueles que crêem em Deus e que O consideram distinto das criaturas, mas que acham que Deus abandonou o mundo, deixando à própria sorte e, portanto, permitindo ao homem que dissesse “como” deveria se portar no cotidiano da sua vida sobre a face da Terra, caminhando no sentido da “evolução espiritual” às suas próprias custas. Assim, os deístas, embora acreditem em valores morais absolutos, entendem que, de um modo ou de outro, os homens, mais cedo ou mais tarde, viverão de acordo com eles, sendo, portanto, tolerantes ao máximo com os desvios de conduta atualmente existentes.

– Este quadro é o que determina o comportamento da humanidade na atualidade. Numa descrição extremamente fiel ao que ocorre no mundo de hoje, o chefe da Igreja Romana, o Papa Bento XVI, quando ainda era o cardeal decano do Colégio dos Cardeais, na homilia da missa rezada antes do recolhimento dos cardeais para a escolha do novo Papa, que viria a ser o próprio autor da homilia, assim se expressou:  “…Quantos ventos de doutrina temos conhecido nestas últimas décadas, quantas correntes ideológicas, quantos modos de pensar… A pequena barca do pensamento de muitos cristãos tem estado freqüentemente agitada por estas ondas — jogada de um lado para o outro: do marxismo ao liberalismo, até o libertinismo; do coletivismo ao individualismo radical; do ateísmo a um vago misticismo religioso; do agnosticismo ao sincretismo e assim vai. Nos nossos dias, nascem novas seitas e se realiza o que disse São Paulo sobre o engano dos homens que, com astúcia, enganam fraudulosamente (cf. Ef.4:14). Ter uma fé clara, segundo o Credo da Igreja, vem freqüentemente rotulado como fundamentalismo.  Ao passo que o relativismo, que é deixar-se portar como e segundo os ventos de doutrina, sejam eles os que forem, aparece como a única atitude de nobreza nos tempos de hoje. Vai-se constituindo uma ditadura do relativismo que não reconhece nada como definitivo e que deixa como última medida só o próprio eu e as suas vontades…” (RATZINGER, Joseph. Homilia da Missa Pro Eligendo Romano Pontifice, 18 abr. 2005) (tradução nossa de texto oficial em italiano).

– Crer em verdades absolutas, em valores absolutos, em princípios imutáveis, oriundos de Deus, é algo que é repelido e rechaçado pela grande parte da humanidade dos nossos dias. Os verdadeiros servos de Deus são tachados de “fanáticos”, “atrasados”, “preconceituosos”, “fundamentalistas”. É este o mundo em que estamos a viver, um mundo onde “tudo é relativo”.

IV – A FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA E O RELATIVISMO MORAL DELA ADVINDO

– Nosso comentarista aponta uma vertente filosófica que dá base para o relativismo moral dos nossos dias: o pragmatismo. Mas, ao lado desta corrente filosófica, podemos, também, acrescentar o existencialismo que, se já perdeu o seu vigor na atualidade, teve grande influência sobre os principais formadores de opinião da atualidade, sendo, mesmo, a base de toda a “cultura do imediatismo” que tanto tem se alastrado, inclusive nos meios ditos  evangélicos, que o digam as doutrinas da confissão positiva e da teologia da prosperidade. Falemos, pois, destas duas correntes filosóficas, que tanto têm influenciado o comportamento dos homens dos tempos trabalhosos e ameaçam a saúde espiritual do corpo de Cristo.

– O pragmatismo é o nome que recebeu uma corrente filosófica surgida no final do século XIX, com origem nos Estados Unidos da América, mas que encontra suas raízes nos pensamentos dos ingleses Jeremy Bentham (1748-1832) e John Stuart Mill (1806-1873), considerados os pais do “utilitarismo”. Segundo o pragmatismo, deve-se valorizar mais a prática do que a teoria (daí o seu nome, pois “pragmático” significa concreto, aplicado, prático), considerando que devemos dar mais importância às conseqüências e efeitos da ação do que a seus princípios e pressupostos.

– Para o pragmatismo, a verdade é medida pela utilidade, ou seja, é verdadeiro aquilo que for útil, aquilo que der resultados favoráveis, que corresponderem aos desejos do agente. Percebe-se, claramente, que se trata de um pensamento extremamente adequado para os “homens amantes de si mesmo”. É verdade aquilo que for do agrado de alguém. Trata-se da redução da verdade à vontade do homem, uma contemporânea maneira de expressar o antigo pensamento do filósofo grego Protágoras que dizia que “o homem é a medida de todas as coisas, das que são, enquanto são e das que não são, enquanto não são”.

– O pragmatismo encontrou guarida em diversos segmentos da intelectualidade. Filósofos como os norte-americanos William James(1842-1910), Charles Peirce (1839-1914) e John Dewey(1859-1952) influenciaram vários setores das ciências, moldando o pensamento científico aos preceitos da utilidade, influência esta que se tornou ainda mais forte diante da circunstância de os Estados Unidos terem se tornado, na época destes pensadores, uma superpotência mundial. Na ciência, na atualidade, vigora a idéia da “verdade pragmática”, também chamada de “quase-verdade”, ou seja, que se deve considerar como verdadeiro aquilo que mais contribui para o bem estar da humanidade em geral.

– Assim é que, na atualidade, tem encontrado guarida a filosofia do norte-americano Richard Rorty (1931-), chamada de “neopragmatismo” ou “liberalismo pragmático”, segundo o qual “…Uma sociedade liberal é uma sociedade que se contenta em chamar “verdadeiro” ao resultado de tais encontros, seja ele qual for. É por isto que uma sociedade liberal não é bem servida por uma tentativa de lhe proporcionar “fundamentos filosóficos”, já que a tentativa de proporcionar tais fundamentos pressupõe uma ordem natural de assuntos e de argumentos que é anterior e ultrapassa os resultados de encontros entre vocabulários velhos e novos.…”(ESPADA, João Carlos e ROSAS, João Cardoso. Rorty(1931). O liberalismo pragmático. http://www.google.com/search?q=cache:SA0T036EN2sJ:home.uchicago.edu/~monteiro/works/rorty-tpc-ic-ensaio.pdf+%22Richard+Rorty%22,+verdade&hl=pt-BR Acesso em 14 set. 2005). Percebe-se, pois, que, embora mudem os filósofos da moda, sempre são buscados “doutores” que justifiquem as concupiscências praticadas nos nossos dias.

OBS: “…Rorty afirma que “verdadeiro é aquilo que é aprovado num sistema de crenças válido para a maioria dos fatos na maioria dos casos”. Dito de outra maneira, verdadeira é a descrição do sujeito que satisfaça as exigências morais do certo e do errado, do bom e do mau, numa dada forma de vida.…” (COSTA, Jurandir Freire. Rorty e a psicanálise. http://www.google.com/search?q=cache:yPOXtQf893oJ:www.cfh.ufsc.br/~wfil/Rorty2.htm+%22Richard+Rorty%22,+verdade&hl=pt-BR Acesso em 14 set. 2005).

– As posições de Richard Rorty têm sido grandemente elogiadas e apreciadas no mundo acadêmico. Segundo Luiz Eduardo Soares, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMGH): “…’A obra de Richard Rorty está, hoje, consagrada em todo o mundo. Inúmeros motivos a tornam uma das mais ricas, sofisticadas, influentes, inspiradoras, intelectualmente provocadoras e politicamente relevantes da filosofia contemporânea. Em primeiro lugar, Rorty reinscreveu a filosofia norte-americana no mapa do pensamento mundial, onde há décadas não tinha mais lugar, salvo no capítulo exclusivo da filosofia analítica. Para fazê-lo, redescreveu, isto é, contou com uma dicção única e inconfundível, por um ângulo absolutamente original, sua versão da história da filosofia, na qual tornaram-se possíveis, inteligíveis e até necessários encontros, parcerias e diálogos surpreendentes. Ao operar esta reinscrição, Rorty cumpriu o papel simétrico complementar: ajudou a trazer de volta para as salas de aula dos EUA a filosofia européia continental, arquivada, desde os anos cinqüenta, como retórica metafísica e má literatura. Desse modo, contribuiu para tornar o ambiente universitário norte-americano mais cosmopolita e sensível às grandes questões de nosso tempo e para abrir brechas na hegemonia do neopositivismo. Em segundo lugar, coube a Richard Rorty uma função singular: combinar convicções democráticas e os valores da revolução burguesa de 1789 com o radicalismo antifundacionista, antiessencialista, cujas conseqüências foram, freqüentemente, confundidas com o ceticismo, o relativismo e o sectarismo antiinstitucionalista do anarquismo. Ambos os movimentos convergiam: a redescrição da história da filosofia, com a reinscrição dos filósofos americanos pragmatistas no centro dos debates modernos e a dupla requalificação – da democracia, que alterava os termos de suas ‘justificação’, passando a prescindir de ‘fundamentação’; e do antifundacionalismo filosófico, que perdia parte de seu glamour radical ao afastar-se do sectarismo político, mas ganhava em responsabilidade ‘realista’.…” (http://www.google.com/search?q=cache:CF8rJ4fgz0MJ:www.rubedo.psc.br/Revista/eufmg/textos/pragmat.htm+%22Richard+Rorty%22,+verdade&hl=pt-BR Acesso em 15 set. 2005). Vê-se, portanto, a influência que Rorty tem tido na formação do pensamento do principal país do mundo na atualidade.

–  Temos, assim, o quadro deprimente que é condenado pelo Senhor na Sua Palavra, quando, através do profeta Isaías, que, em seu capítulo 5, é usado por Deus para deplorar aqueles que “…ao mal chamam bem e ao bem, mal, que fazem da escuridade luz, e da luz escuridade e fazem do amargo doce e do doce, amargo” (Is.5:20). Todas as pessoas que têm sido usadas pelo “mistério da injustiça” para divulgar as idéias de que é o homem e não Deus quem determina o que é o certo e o que é o errado, portanto, são tratadas pelo Senhor com um “ai”. Em virtude destes homens, a ira do Senhor se acendeu contra o mundo, que seguirá suas torpes orientações e, por isso, após o arrebatamento da Igreja, sobrevirá o negro período da Grande Tribulação.

– O pragmatismo descrê na existência da verdade, transforma a verdade em um mero acordo de vontades das pessoas. Não existiria, para os pragmáticos uma verdade única, mas tão somente consensos gerados pelos homens e que podem ser alterados através dos tempos. Este “relativismo” é completamente contrário ao que ensinam as Escrituras, que, aliás, são A verdade (Jo.17:17). A negação da existência de uma verdade absoluta, que independa do homem, é a negação do próprio Deus, que é a verdade (Dt.32:4; Jr.10:10; Jo.14:6).

– O existencialismo é o nome dado para uma corrente filosófica que encontrou seu esplendor na segunda metade do século XX.  Segundo esta linha de pensamento, “…no homem, a existência, que se identifica com a sua liberdade, precede a essência; por isso, desde nosso nascimento, somos lançados e abandonados no mundo, sem apoio e sem referência a valores; somos nós que devemos criar nossos valores por nossa própria liberdade e sob nossa própria responsabilidade. Quando Sartre diz que a existência precede a essência, quer mostrar que a liberdade é a essência do homem.(…) Quanto ao homem, ele é aquilo que cada um faz de sua vida, nos limites das determinações físicas, psicológicas ou sociais que pesam sobre ele. Mas não existe uma natureza humana da qual nossa existência seria um simples desenvolvimento. O cerne do existencialismo é a liberdade, pois cada indivíduo é definido por aquilo que ele faz. Donde o interesse dos existencialistas pela política: somos responsáveis por nós mesmos e por aquilo que nos cerca, notadamente, a sociedade: aquilo que nos cerca é nossa obra.…” (JAPIASSU, Hilton e MARCONDES, Danilo. Existencialismo. In: Dicionário básico de filosofia, p.92).

– Esta corrente filosófica teve grande desenvolvimento no período entre as duas guerras mundiais e no período imediatamente posterior à Segunda Guerra Mundial tendo tido seu esplendor na figura do filósofo francês Jean Paul Sartre (1905-1980). “… Para Sartre, cujo pensamento é ateísta, a descoberta do absurdo da vida pelo homem que toma consciência de ser finito, marcado pela morte, deve levar à busca de uma justificativa, de um sentido para a existência humana.(…). Sartre defende a liberdade como uma das características fundamentais da existência humana. Segundo ele, paradoxalmente, ‘o homem está condenado a ser livre’ e precisa assumir essa liberdade vivendo autenticamente seu projeto de vida — seu engajamento — recusando os papéis sociais que lhe são impostos pelas normas convencionais da sociedade. É assim que ‘nós somos aquilo que fazemos do que fazem de nós’…” (JAPIASSU, Hilton e MARCONDES, Danilo. Sartre. In: Dicionário básico de filosofia, p.219).

– Como se pode perceber, o pensamento existencialista procura encontrar uma justificativa para a existência finita do homem, ou seja, acha que a vida do homem se resume a esta vida sobre a face da Terra e que o homem, antes de mais nada, existe e que a sua essência será o que fizer enquanto estiver vivo. Dizer que “a existência precede a essência” é dizer que é o homem que diz o que ele será, linha de pensamento que recusa a existência de um Ser Superior, de alguém que dite o que o homem deva, ou não, fazer. Sartre era ateu e, na verdade, como afirma R.N. Champlin, “…Sartre (…) ampliou o ateísmo de Nietzsche, procurando dar ao ateísmo um alicerce coerente e lógico…” (R.N. CHAMPLIN. Existencialismo. In: Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.2, p.624).

– Tem-se, portanto, uma erudita afirmação de que o homem é quem diz o que deve, ou não, fazer, o que é certo e o que é errado, sendo o verdadeiro centro de sua  vontade e que consistiria nisto a própria liberdade do homem. Mais uma vez, querendo se dizer independente de Deus, o homem assina a sua sentença de escravidão diante do pecado, do maligno e das hostes espirituais da maldade.

– A Bíblia mostra, claramente, que o homem, ao ser criado por Deus, foi criado com liberdade, podendo optar entre o bem e o mal. Entretanto, Deus “ordenou” ao homem o que era o certo e o que era o errado e, deste modo, não há que se falar em uma existência que preceda à essência. Deus pré-existe ao homem, criou-o e, portanto, tem o legítimo direito de determinar o que é o certo e o que é o errado. Ao homem cabe, apenas, exercer o seu livre-arbítrio e responder pela opção feita. A morte é, sem dúvida, um absurdo, porque não se encontra no plano original de Deus, mas a morte não é o fim da existência, mas, muito pelo contrário, apenas o início da eternidade, que será o resultado do exercício da liberdade feito pelo homem aqui na Terra.

– Sartre e o existencialismo encontraram grande acolhida no mundo sedento por um embasamento que lhes permitissem viver como bem quisessem, que lhes permitissem dar um devido respaldo racional para a sua recusa deliberada de viver segundo os padrões estabelecidos por Deus. O mundo de hoje, a exemplo dos que apostataram da fé e a ele pertencem, vive à procura “para si [de] doutores conforme as suas próprias concupiscências” (II Tm.4:3b). No entanto, isto nada muda com respeito ao fato de que cada um terá de prestar contas da sua vida diante do Senhor no momento oportuno.

– Tanto assim é que, de forma surpreendente, o filósofo francês acabou por apoiar abertamente o regime soviético, apesar das muitas evidências dos massacres por ele cometidos, caindo em descrédito, descrédito que tentou remediar ao condenar a invasão soviética da Hungria, mas que ficaria permanente quando defendeu a “Revolução Cultural” na China em 1968. Em 2005, no ano de seu centenário de nascimento, Sartre é considerado um pensador superado e enterrado como ideólogo, sobrevivendo apenas como um escritor. Se, porém, sua obra foi tida por desacreditada, os fundamentos de seu pensamento ganharam eco e acolhida no mundo sem Deus e sem salvação, que, embora recorrendo a outros pensadores, mantêm a firme disposição de determinar a moral do homem, como se isto fosse possível.

OBS: “…Por sua defesa de idéias e regimes indefensáveis, o pensador Sartre, que em seu tempo foi um pop star da filosofia, hoje é um desses anacronismos que só uns poucos intelectuais brasileiros ainda sustentam.…” (Rinaldo GAMA. O que sobrou de Sartre? Veja, edição 1922, ano 38, n.37,  14 set. 2005, p.125).

V – A TENTATIVA DE JUSTIFICATIVA DO RELATIVISMO MORAL PELA DIVERSIDADE CULTURAL

– É importante observarmos que muitos dos que defendem o relativismo moral alegam a questão referente à cultura, ou seja, dizem que as sociedades dos homens em torno do mundo são diferentes, têm valores diversos, não sendo, pois, possível haver valores absolutos desta ou daquela natureza. Entretanto, apesar da cultura de cada povo ser diferente, isto, de modo algum, significa que não haja a noção de pecado em cada cultura. Disto há provas evidentes na Bíblia Sagrada, como quando vemos como os cristãos trataram a questão das diferenças de costumes entre judeus e gentios, num reconhecimento de que o relacionamento com Deus, a ética está acima das culturas dos povos, como, aliás, ficou evidenciado no chamado “concílio de Jerusalém” (At.15).

– O desenvolvimento das comunicações e dos meios de transporte fez com que o mundo se tornasse uma verdadeira “aldeia global”, onde todos os homens, em todos os continentes, pudessem ter contacto quase que imediato, em tempo real. Isto fez com que a humanidade, numa proporção até hoje nunca antes vista no mundo, percebesse a grande diferença de culturas que existe no mundo.

– Cultura, como ensinam os antropólogos (a Antropologia é a ciência que estuda o homem na sua totalidade, ou seja, o homem e a suas obras, tendo como conceito fundamental o de “cultura”), é, segundo a classifica definição de Edward B. Taylor,  “…aquele todo complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e aptidões adquiridos pelo homem como membro da sociedade…” (apud MARCONI, Marina de A. e  PRESOTTO, Zélia M.A.. Antropologia: uma introdução, p.42). Assim, a cultura é um conjunto de idéias, abstrações e comportamento que os homens têm numa determinada sociedade.

– Como podemos verificar, portanto, a cultura é resultado de uma convivência do homem em grupos sociais, pois o homem é um ser gregário, isto é, que vive em sociedade, pois “não é bom que o homem esteja só” (Gn.2:18). Nesta convivência, os homens acabam criando hábitos, costumes, crenças e uma forma de ver e se relacionar com o mundo que o cerca, inclusive com o sobrenatural, com o que está além da matéria. Temos, portanto, que a cultura é, essencialmente, uma criação humana, pois o homem tem este poder criativo, como Deus nos mostra na Sua Palavra em Gn.2:19,20.

– Sendo, porém, uma criação humana, tem-se que a cultura jamais pode afrontar os princípios estabelecidos por Deus ao homem. O poder criativo do homem está sujeito à observância dos princípios éticos estabelecidos pelo Senhor, tanto que Deus apenas determinou que o homem desse nomes aos seres criados depois que lhe ordenou o que era o certo e o que era o errado.

– Evidentemente que, ao pecar, o homem perdeu a comunhão com o Senhor e, por causa disso, passou a estar sob o domínio do pecado, pecado este que determina a própria formação da cultura por parte do homem, como vemos já na civilização caimita (Gn.4:17-24), cultura, aliás, que preponderou sobre a cultura da descendência de Sete (Gn.6:1,2), gerando um modo de vida que fez com que o Senhor destruísse a raça humana no dilúvio (Gn.6:5-7).

– Com a dispersão da comunidade única pós-diluviana após o juízo de Babel (Gn.11:9), naturalmente que os povos ali nascidos passaram a construir diferentes culturas, até porque a língua é um fator fundamental na formação de uma cultura e Deus confundiu as línguas, impondo, pois, uma diversidade cultural para o mundo.

–  As nações ali formadas, inicialmente isoladas, passaram, pouco a pouco, a manter um contacto que hoje é muito intenso e praticamente diário. Esta diversidade gera nos seres humanos a sensação de que não existe um único modo de vida, uma única forma de se viver sobre a face da Terra, a mesma impressão que toda criança sente ao ir para a escola e perceber que nem todas as famílias têm o mesmo sistema de criação e educação que ela tem em casa.

– Esta sensação, porém, não pode, em absoluto, levar-nos à conclusão de que não existem valores morais absolutos. A comunidade única pós-diluviana, de onde provêm todas as nações, tinha como fundamento moral a principiologia divina, a conduta estabelecida por Deus ao homem, desde o Éden, e que foi renovada a Noé (Gn.9:1-17), princípios que são denominados pelos estudiosos da Bíblia de “pacto noaico” e, particularmente, pelos rabinos judeus de “os sete preceitos dos descendentes de Noé” (Shéva Mitsvót Benê Nôach), a saber: praticar a eqüidade, não blasfemar o nome de Deus, não praticar idolatria, imoralidades, assassinatos e roubos e não tirar e comer o membro de um animal estando ele vivo.

– Esta principiologia básica, logicamente, em virtude do pecado, acabou sendo distorcida, como já havia sido antes do dilúvio. É tarefa da Igreja pregar o Evangelho, pregar a salvação em Cristo Jesus e, com a salvação, com o novo nascimento, nasce uma nova ética, a ética cristã, a ética estabelecida pelo Senhor, fundamentalmente, no Sermão do Monte, e complementada pelo Novo Testamento, que, com o Antigo, forma um conjunto único e completo da revelação divina à humanidade.

– Deve, portanto, a Igreja se inserir na cultura de um povo, não atacá-la nem tentar modificá-la de fora para dentro, mas, sim, inserir-se dentro da cultura de uma determinada sociedade e, ali, mediante a pregação eficaz e poderosa da Palavra de Deus, ser o instrumento para o novo nascimento das pessoas. Este novo nascimento fará com que as pessoas mudem de conduta e esta modificação trará, inevitavelmente, novos hábitos, novos costumes e a cultura será transformada, retornando-se à principiologia divina distorcida ao longo da vida pecaminosa da sociedade.

– Este processo é o que se tem denominado pelos teólogos de “inculturação”, ou seja, a Igreja, a exemplo do seu Senhor, deve, em primeiro lugar, “encarnar-se” na sociedade que está sendo evangelizada (assim como Jesus Se fez carne e habitou entre nós-Jo.1:14), “encarnação” que não tem, entretanto, qualquer sentido de conivência e prática do pecado com os integrantes da sociedade em pecado (Jesus em tudo foi tentado, mas jamais pecou!- Hb.4:15).

OBS: Por isso, temos muitas restrições a métodos de evangelização que têm surgido na atualidade. Se é necessário termos trabalhos específicos e construídos dentro da  cultura de “grupos alternativos” na sociedade, não é menos verdadeiro que não podem os crentes, sob este pretexto, praticarem as mesmas condutas pecaminosas e malignas das pessoas que devem ser atingidas pela mensagem do Evangelho.

– Depois da “encarnação”, a Igreja deve  promover a “transformação”, ou seja, assim como seu Mestre fez-Se carne e habitou entre nós e, depois, começou a pregar o Evangelho e a conclamar o povo ao arrependimento dos pecados, os cristãos, como corpo de Cristo, devem fazer o mesmo, mostrando, através da pregação, dos sinais que se seguem e de uma vida frutífera (Mc.16:15,20; Jo.15:16), que, em Cristo, se é uma nova criatura (II Co.5:17; Gl.6:15).

– Esta transformação fará, necessariamente, que haja modificação cultural naquilo que não é compatível com a Palavra de Deus. A Igreja, então, faz com que haja uma “recriação” da vida social, com a conformação não mais com o pecado e o mundo, mas com a vontade de Deus, o que, aliás, é historicamente comprovado, pois mesmo os maiores inimigos do Evangelho reconhecem, como é o caso de Karl Marx, que a doutrina cristã efetuou grandes transformações sociais.

– Percebe-se, portanto, que não existem “várias morais” nem que a “moral depende de cada sociedade”, como se tem defendido ultimamente e é praticamente um consenso no mundo em que vivemos, mas, antes, que existe uma ética que está acima das culturas e que a diversidade cultural em nada altera a realidade de princípios morais absolutos. A diversidade cultural existe e é obra de Deus, mas a existência de valores morais universais, válidos para todos os homens, pois decorrente de uma determinação divina a toda a humanidade, é também uma realidade presente e inafastável.

VI – O CRENTE E OS PRINCÍPIOS BÍBLICOS DE COMPORTAMENTO

– Pelo que temos afirmado, vemos que o verdadeiro e genuíno servo do Senhor deve, diante destas idéias que querem afirmar que “tudo é relativo”, olhar para o Senhor e para a Sua Palavra, porquanto não há como deixar de reconhecer que Deus estabeleceu normas éticas a serem seguidas pelo homem. O homem é criação divina e, conquanto tenha obtido uma posição de destaque com relação à criação sobre a Terra (Gn.1:26,28), não foi posto acima de Deus em hipótese alguma. Deus é quem dá as ordens ao homem (Hb.2:16) e, portanto, cabe ao homem, se quiser desfrutar da felicidade que lhe foi oferecida pelo seu Criador, seguir os preceitos estabelecidos pelo Senhor e que lhe foram tornados conhecidos pela Palavra de Deus.

– No Salmo 119, cujo tema é precisamente a Palavra do Senhor, vemos que só ela pode ser a única regra de fé e prática para o ser humano. A felicidade, a bem-aventurança encontra-se, diz o salmista, em se “trilhar os caminhos retos e andar na lei do Senhor” (Sl.119:1). Quem anda nos caminhos do Senhor, não pratica a iniqüidade (Sl.119:3) e, por isso, não está separado de Deus, gozando, assim, de plena comunhão com o Senhor, que nada mais é que a vida eterna.

– Deus é quem ordena as normas pelas quais nos devemos guiar (Sl.119:4), desde a nossa mais tenra idade (Sl.119:9) até o ocaso da nossa existência sobre a face da Terra(Sl.119:100), existência que não termina com a morte física, como ensinaram falsamente os existencialistas ou os materialistas. Na Terra, estamos, sim, de passagem (Sl.119:19), mas temos convicção de que Deus nos amou e proporcionou a nossa salvação (Sl.119:41), salvação que vem, precisamente, pelo ouvir pela Palavra de Deus. Esta salvação dá-nos a convicção e certeza de uma eternidade com Deus, não havendo mais a angústia e o temor decorrentes da morte, que justificariam a “liberdade” defendida por Sartre (Sl.119:44,50). Aliás, como explica o salmista, a única liberdade possível para o homem é aquela obtida por se viver segundo a Palavra do Senhor (Sl.119:45).

– O servo do Senhor deve seguir os valores absolutos determinados por Deus mesmo quando forem zombados pelos orgulhosos, ou seja, aqueles que rejeitam a soberania divina (Sl.119:51) e não só praticar o que mandam as Escrituras Sagradas, como mostrar-se indignado com a rebeldia ostentada pelos pecadores inveterados  e contumazes (Sl.119:53) até porque é próprio dos ímpios combaterem a conduta lícita e ética dos servos de Deus (Sl.119:61,69, 78, 85, 86, 122).

– Diante do relativismo moral que predomina na atualidade, o cristão deve estabelecer sua conduta segundo os mandamentos ordenados pelo Senhor, que devem ser aceitos e obedecidos (Sl.119:91). É tarefa de cada filho de Deus pautar por uma conduta que demonstre a supremacia dos valores estabelecidos por Deus e que devem ser seguidos por todos os seres humanos. Disto, aliás, tinha consciência o chefe da Igreja Romana, que, no pronunciamento supramencionado, afirmou que “…Nós, porém, temos uma outra medida: o Filho de Deus, o verdadeiro homem. É Ele a medida do verdadeiro humanismo: ‘Adulta’ não é uma fé que segue as ondas da moda e a última novidade; adulta e madura é uma fé profundamente arraigada na amizade com Cristo. É esta amizade que se abre a todo que é bom e se dá o critério de discernir entre o verdadeiro e o falso, entre o engano e a verdade. Esta fé adulta devemos amadurecer, a esta fé devemos guiar o rebanho de Cristo. E é esta fé — só a fé — que cria unidade e se realiza na caridade. São Paulo oferece-se a este propósito — em contraste com as aventuras de cores que são como espumas flutuantes das ondas — uma boa palavra: fazer a verdade na caridade, como fórmula fundamental da existência cristã. Em Cristo, coincidem a verdade e a caridade. Na medida em que nos aproximamos a Cristo, também na nossa vida, verdade e caridade se fundem. A caridade sem verdade será cega, a verdade sem caridade como “um sino que tine” (I Co.13:1).…” (RATZINGER, Joseph. Homilia da Missa Eligendo Pro Romano Pontifice, 18 abr. 2005) (tradução nossa de texto oficial em italiano).

– Se alguém que não desfruta de vera comunhão com o Senhor tem tamanha visão de como devemos nos guiar em tempos de relativismo moral, como devemos, então, reagir a esta circunstância em que as pessoas insistem em dizer que não há uma moral absoluta? Aos que insistem em renegar que existe a Verdade, a Verdade que é Jesus (Jo.14:6), verdade que nos santifica, pois é a Palavra de Deus (Jo.17:17). Devemos ter a mesma reação que teve nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, cujo exemplo devemos seguir (I Pe.2:21), ou seja, viver de acordo com a vontade de Deus (Jo.17:4), não pecar (Hb.9:28). Que cada um de nós possa ser um verdadeiro imitador de Cristo e não nos deixemos levar pelo relativismo moral (I Co.11:1).

OBS: Reproduzimos, aqui, por ser absolutamente pertinente, as palavras do grande pregador inglês Charles Spurgeon: “…Algumas coisas são verdadeiras e algumas são falsas. Considero isso um axioma. Mas há muitas pessoas que, evidentemente, não acreditam nisso. Parece que o princípio vigente na era atual é este: ‘ As coisas são verdadeiras ou falsas, conforme o ponto de vista do qual as olhamos. O preto é branco, e o branco é preto, segundo as circunstâncias; e não importa muito como as denominemos. É certo que a verdade é verdadeira, mas seria descortês dizer que o seu oposto é mentira. não devemos ter mentalidade estreita e, sim, lembrar o moto: ‘Tantos homens, tantas mentes’. Os nossos antepassados eram decididos quanto a manter marcos. Tinham vigorosas noções sobre pontos fixos da doutrina revelada, e se apegavam tenazmente àquilo que acreditavam ser escriturístico. Seus campos eram protegidos por cercas e valas, mas seus filhos arrancaram as cercas, encheram as valas, nivelaram tudo e brincaram de pular carniça com as pedras que marcavam os limites. A escola moderna de pensamento ri-se do ‘ridículo’ caráter positivo dos reformadores e dos puritanos. Vai avançando em ‘gloriosa’ liberalidade, e não vai demorar muito, estarão proclamando uma grande aliança entre o céu e o inferno, ou melhor, o amálgama dos dois estabelecimentos em termos de concessão mútua, permitindo que a falsidade e a verdade se deitem lado a lado, como o leão com o cordeiro. Todavia, apesar disso, minha firme crença antiquada é que uma doutrinas são verdadeiras, e que afirmações que sejam diametralmente opostas a ela não são verdadeiras — que quando ‘Não” é o fato, ‘Sim” está fora do páreo, e que quando ‘Sim” é justificável, ‘Não” tem que ser abandonado.…” (SPURGEON, Charles. Lições aos meus alunos. Trad. Odayr Olivetti, p.45).

7 respostas para “A integridade do mundo relativista – 1”.

  1. Avatar de jose freitas souza
    jose freitas souza

    Gostei muito deste site que enrequeci nossos conhecimento biblico,
    que Deus constui abencoando os irmãos.

  2. Avatar de jose freitas souza
    jose freitas souza

    Gostei muito deste site que enrequece nossos conhecimento biblíco,
    que Deus continui abençoando os irmãos.

  3. Avatar de José Rinaldo de Santana
    José Rinaldo de Santana

    Este site foi uma riqueza para mim em termos de conhecimentos me dando subsidios para melhoria na escola dominical, que Deus nos abençoe que possamos dia adia descobrirmos fontes que venham enriquecer os nossos conhecimentos Biblicos elevando o nosso nivel espiritual. Amém.

  4. Avatar de Manoel Melo Cursino
    Manoel Melo Cursino

    Infelizmente a maioria dos respsonsáveis pela condução da igreja visível deixaram as “porteiras abertas”, escancaradas mesmo, deixaram entrar e ficar na Igreja o mundanismo, o materialismo, “o acompamento” das Portas do Inferno, o relativismo e os modismos religiosos que mais destroem a fé do que edificam (se é que edificam alguma coisa).
    É lamentável a situação da maioria das igrejas que se preocupam com quantidade sem a qualidade exigida por DEUS.
    A sensualidade é uma predominante com os desfiles de roupas que mais parecem um clube de passarela para ver quem mais sensualidade exibe nos trajes, nas pinturas.
    Homens e mulheres sensuais, roupas inadequadas que exibem o formato das partes íntimas que estimulam a libido.
    Certa feita na Igreja em que congrego vi uma senhora que cantou e pregou com um som acima dos 500 decibéis, toda pintada e estravagantemente sensual. Em determinado momento durante o espetáculo eu tive a visão de uma feiticeira, tamanha a extravagância da pintura e do formanto das roupas da mesma.
    OS FIÉIS PEDEM SOCORRO.

  5. gostei muito do comentário mas poderia ser mais resumido, só assim nós poderiamos tirar mais proveito. Mais continue fazendo sua parte pois este site é muito interessante principlamente para os professores da EBD que poricuram mais recursos para encrementar a sua aula, que Deus continue lhe abençoando a cada dia mais, um forte abraço E A PAZ DO SENHOR.

  6. Avatar de Divina Pereira
    Divina Pereira

    Olá, há dois anos usamos a revista de vocês em nossa EBD e tem sido um material muito rico em ensinos, em uma linguagem simples e objetiva, e estes temas então…muito bons, usamos não só na EBD mas nos cultos familiares. Que Deus os abençõe. Grande abraço

  7. A paz do Senhor amados.
    Sou instrutor da escola dominical, utilizo a revista proposta pela CPAD, porém antes de pegar na revista, estudo o texto desta página, onde muitas vezes intercalo os conhecimentos expostos e dos dois faço um.

    Deus continue abençoando os irmãos.

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